Nem sempre a mulher que está grávida, ou que é mãe, está plena e feliz. No entanto, essa mulher sente-se julgada e incompreendida pela sociedade, pois na nossa cultura, maternidade é sinônimo de felicidade e plenitude.A romantização da maternidade torna difícil falar sobre o adoecimento psicológico da mãe, pois todos dizem que “é o melhor momento da vida dela, que ela deveria estar grata, extremamente feliz e realizada”.
No entanto, inúmeras coisas podem estar acontecendo na vida dessa mulher para que ela não se sinta assim. Ao contrário do que se imagina, muitas mulheres experimentam tristeza ou ansiedade nessa fase de suas vidas.
Na vida feminina, há 3 períodos potenciais de crise: a puberdade, a menopausa e o período perinatal (gestação e pós-parto). A literatura científica indica que este último, é o período de maior prevalência de transtornos mentais na mulher, porém, a maioria não é diagnosticada e tratada adequadamente (Maldonado, 1997).
A gestação e o puerpério são períodos na vida da mulher que envolvem inúmeras alterações físicas, hormonais, psíquicas e de inserção social, as quais devem refletir diretamente em sua saúde mental. Além disso, as mudanças provocadas pela vinda do bebê não se restringem apenas às variáveis psicológicas e bioquímicas, mas também envolvem fatores socioeconômicos, principalmente nas sociedades em que a mulher está inserida no mercado de trabalho, participando do orçamento familiar e cultivando interesses profissionais e sociais diversos.
Portanto, o período perinatal é um período potencial de risco e pode comprometer a saúde da mãe e consequentemente do feto e\ou bebê. Muitas estão com altos níveis de stress, ansiedade e sintomas depressivos (Schiavo, 2018). Entretanto, a maioria não se sente à vontade para falar sobre como se sente, nem muito menos procurar ajuda profissional, pois pensa que tem algo de errado com ela e que é a única que se sente assim. Portanto, ela sofre sozinha e o adoecimento mental é favorecido.
Além disso, pesquisas feitas na área da Psicologia Perinatal, indicam que mais da metade das gravidezes em nosso país não são planejadas, o que contribui para que esse bebê venha num momento da vida não tão apropriado, o que pode favorecer o adoecimento mental da mulher (Schiavo, 2018).
Ainda segundo esta mesma autora, os dados estatísticos sobre as gravidezes no Brasil apontam que:
• 35% das gestantes apresentam alta ansiedade;
• 60% das gestantes apresentam stress em algum nível;
• 25% das gestantes apresentam sintomas de depressão.
No pós-parto, esses índices diminuem, porém continuam significativos de acordo com o esperado, o que requer atenção:
• 30% das mulheres apresentam alta ansiedade;
• 20% das mulheres apresentam sintomas de depressão;
• 49% das mulheres apresentam stress em algum nível.
Como se não bastasse, mulheres grávidas e recém-mães estão mais vulneráveis ao adoecimento mental no contexto da pandemia, não apenas pelo estresse do risco do COVID-19 ao bem estar do feto, mas também aos efeitos de medidas preventivas, como quarentena, distanciamento físico, isolamento domiciliar, consultas remotas com profissionais de saúde e incapacidade de obter nível esperado de apoio e cuidado pré-natal, intraparto e pós-natal (Fonte: @maiofurtacor).
Portanto, cuidar da mãe é fundamental. Além de ser uma pessoa como qualquer outra, e portanto, poder adoecer e merecer cuidados, uma mulher doente impacta o emocional e o funcionamento de toda a família, além de poder comprometer o desenvolvimento do bebê.
Também precisamos parar de exigir das mães que sejam perfeitas e que estejam sempre bem. Precisamos criar uma cultura na qual a gestante e a mãe possam dizer quando estão tristes, insatisfeitas, cansadas, irritadas, decepcionadas com a maternidade e apesar da maternidade!
Se importe com a mãe. Saúde mental materna importa.
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